sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O não dito

-Ora. - Disse ele. - Você sabe que...
Ele gostava de argumentar. Na verdade, gostava de ter uma explicação. O argumento era uma tentativa de torna-la mais convincente.
-Eu nunca disse isso. Uma vez dito é fato, mas eu nunca disse.
Realmente, seu problema não era caráter, mentiras, omissões, nem nada. Seu problema era que ele precisava de uma explicação. Ou uma justificativa. E demorou para ele perceber que as vezes não há explicação, muito menos justificativa. Pelo menos aparentemente, por que ele sabia que, no fundo, havia uma explicação, e com ela, uma justificativa.
-Você disse. - Ela afirmou contundentemente. - Se não disse, pensou. Ou melhor, sentiu.
Ele sabia. Ele sabia que tinha sentido, e uma vez sentido, é fato. No entanto, sentir não é falar, ao menos que seu comportamento fosse uma linguagem... Maldição, seu comportamento podia ser, também, uma linguagem, agora para ele isso era claro. Talvez não o fosse para ela.
-Sim, eu disse.
E ela chorou. Chorou e saiu, dando-lha, repentinamente, às costas, com as mãos ao rosto sem virar para trás, nem ao menos levantar a cabeça.
-É... - ele disse consigo mesmo - Isso que é discurso...
Ele sabia que ela tinha falado tudo. O que fora dito e o que não fora, e num discurso completo e infinito, nunca mais voltaria.

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