quarta-feira, 31 de março de 2010

Outono cedo

As gotas de orvalho
na grama verde da manhã fria
brilham

Fracionando o sol
que atrás da neblina se fazia
turvo

domingo, 28 de março de 2010

Visitante

Ser visitante é estranho.
Não é turista, nem morador.
Estar numa cidade sem ter um vínculo determinado
causa certa estranheza.
Só não é tão ruim
por que já tenho uma certeza.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Guarda-chuva para leigos em meteorologia

Hoje decidi sair com o guarda-chuva. Odeio guarda-chuvas, pois eles são criaturas intrigantes, conheço pouca gente que achou um guarda-chuva , porém que os perdeu.. muitas... incontáveis...
Minha teoria é que esses seres quando deixados longe do dono são teletransportados para uma outra dimensão.. acho q a mesma que se comunica com minha máquina de lavar roupa, pq coloco um par de meias e depois ela me gospe só um pé....
Mas o caso é que pela intuição e pela meteorologia as chances de chuva eram 99,999999%, e lá sai com o dito cujo. Caminhei com ele o dia inteiro... E pra quê??
Pra no final do dia não chover. É sempre assim.
Vou criar um serviço onde que as pessoas me pagam para não chover em determinados dias... para isso é só eu sair com o guarda-chuva!

terça-feira, 23 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Costume

Ser morador do Nordeste
já era inesperado.
Só não imaginava, que um dia iria,
beber cerveja em fila de supermercado.

Síndrome de Paris Hilton

Assim como muitas pessoas,
não tenho lá muito apreço por sub-celebridades.
Porém, sofro de um certo conflito.
No fundo, no fundo, eu também queria ser
ator, cantor, escritor, modelo e dançarino.

Paz

E amor.

Con(fu/clu)são

Cômica tal confusão
Rima aquele que é contra a rima
Outro é contra o próprio ser contra

E agora pra concluir
Viro do avesso a soma de tudo
Pois não discordo e nem to rimando

Equilíbrio

Dinâmico

segunda-feira, 15 de março de 2010

Do contra

Há que ser contra.
Ora, quem é a favor de tudo,
nunca se encontra.
Não existe, pois não é nada.
Para tudo há o contrário,
e assim a coisa fica animada.
Se tudo e todos fluem de acordo com a maré,
boa coisa não é.
Para haver crescimento, às vezes,
é preciso também dar ré.

Texto arrotado II

Inutilmente venho aqui escrever sem sequer olhar pra tela e nem muito me esforçar. É que a hora sagrada do dia, quando as cores mudam rápido no céu, a hora do vinho ao rádio, a hora da solidão, do sossego, da angústia e da reflexão, é pesada. Querer escrever tudo o que sente não dá. E o que seria do dia, e dos dias, e da vida, sem essa hora? Seria como ciência sem filosofia. Nada impossível, mas desprezível de tão chata. Seria um namoro sem risada. Insuportavelmente sério. Seria como buscar uma utilidade pra tudo na vida. Pra esse escrito, por exemplo, que já vai travando agora. Perdeu o impulso. Numa última puxada de fôlego – para a qual a música do rádio não contribuiu, por sinal – digo que essa hora do dia (aquela, agora já é noite) vem me dar uma cusparada na cara com o maior respeito possível pra que me lembre do quão nada séria e útil precisa ser a vida e suas coisas todas do tipo das que passam no jornal. Sem peso nenhum na consciência, fodam-se os terremotos e viva a valsa orquestrada sem letra e sem contexto atual. Obrigado por ouvirem e cederem este espaço. Sem pretexto algum, o autor.

Parceria

Sou contra ser contra
No mundo das artes
Pois menos se encontra
Podando-se as partes

Paguei alguns trocados
Da minha autonomia
Por uns versos rimados
Pra ver o que saía

Só o que na mente eu tinha
Era vinho, mato e cachorro
De repente apareceu-me à linha
Também um charuto e um morro

Lado-a-lado com a amiga rima
Um ao outro íamos cedendo
E um texto foi-se assim tecendo
Igualzinho ao que se encontra acima

Se o solo instrumental de um mudo
Te emociona pela melodia
Veja a rima como parceria
Entre o ritmo e o conteúdo

Roots, sou eu...

http://www.youtube.com/watch?v=YELXw5ABpcs&NR=1
Sou contra a rima.
Ela não é natural.
Ninguém fala rimando,
sem um esforço brutal.
O texto não é escrito,
é procurado.
Para cada sentença que não há um encaixe,
o escritor procura desesperado.
De repente, o escrito toma vida própria,
e o que seria banal, fica complicado.
E já não há como separar criador de criatura.

domingo, 14 de março de 2010

A janela

Sentado no velho sofá de napa preta,
Olho mais uma vez por dentro daquela moldura.
A antena, o muro e o telhado.
Tem um fundo, entretanto, que não pára.
Azulado, alaranjado, com branco, cinza e avermelhado.

Céu soprado, em linhas retas que divergem e somem.
Explodido, como um imponente desastre nuclear milhas além.
Escamado, em textura repetida que se expande em beleza ordenada.
Céu varrido; mal varrido, num desleixo de caos indecifrável.
Ondulado, em ilusão de um breve instante de movimento flagrado.
Até o mundo aplainado em mapa já fora esculpido.

No espaço, em um momento,
E no tempo, em um espaço,
O contínuo se apresenta.
Na metáfora da maior magia do mundo.
O esforço dos meus olhos é inútil.
Tudo muda na mais perfeita estabilidade.

O hóme sem renome e o cachorro sem nome

Tá ali o hóme,
Deitado no mato.
Garrafa de vinho
E charuto barato.
Olhando pro céu
E falando sozinho.
Só ele e o fiel
Cachorro sem nome.

- E você ainda duvida?
Fala olhando pro cachorro.
Levanta e sobe no morro
Com a mão sobre a ferida.

Orgulho novo no peito
Pode não te dar renome,
Mas a dor parece que some
E torna o dia perfeito.

Aos meus amigos ateistas.

O Guardador de Rebanhos

Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem


E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz


E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.


Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
..........................................................................

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.


Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.


Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade


Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.


Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
.................................................................................

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
....................................................................................

Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de março de 2010

Tshhhh

Tshhhhhh.
Abre a cabeça.
Tshhhhhh.
Abre a lata.

Determinado acaso

Eu sempre soube.
Estava lá, o tempo todo.
Aquele acaso.
Determinando ter você na minha vida.
Nessa nossa vida.

El amenazado- Jorge Luis Borges

Es el amor. Tendré que ocultarme o que huir.

Crecen los muros de su cárcel, como en un sueño atroz. La hermosa
máscara ha cambiado, pero como siempre es la única. De que me servirán
mis talismanes: el ejercicio de las letras, la vaga erudición, el
aprendizaje de las palabras que uso, el áspero Norte para cantar sus
mares y sus espadas, la serena amistad, las galerías de la Biblioteca,
las cosas comunes, los hábitos, el joven amor d e mi madre, la sombra
militar de mis muertos, la noche intemporal, el sabor del sueño?

Estar contigo o no estar contigo es la medida de mi tiempo.

Ya el cántaro se quiebra sobre la fuente, ya el hombre se levanta
a la voz del ave, ya se han oscurecido los que miran por las ventanas,
pero la sombra no ha traído la paz.

Es, ya lo se, el amor: la ansiedad y el alivio de oír tu voz, la
espera y la memoria, el horror de vivir en lo sucesivo.

Es el amor con sus mitologías, con sus pequeñas magias inútiles.

Hay una esquina por la que no me atrevo a pasar.

Ya los ejércitos me cercan, las hordas.
(Esta habitación es irreal; ella no la ha visto.)

El nombre de una mujer me delata.

Me duele una mujer en todo el cuerpo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Lágrima e tristeza

A lágrima escorre e evapora.
A tristeza sublima.
Seu peso e densidade enorme,
quando some deixa tudo mais leve.
Agora ela é gás.
A lágrima é volúvel, está no choro e no riso.
A tristeza é fiel. Nunca se vende.
Vem sozinha e esmaga.
E então ela sublima,
Deixando para trás a leveza.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Lindo dia feio

Lindo dia feio seja aquele que aconteceu sem ser planejado
Qualquer que seja a vontade do acaso que construa a unanimidade do mínimo
A insignificância de um todo.
qualquer coisa que não se sinta.
O retrato da falta de fé.
Os passos descalços de um pé.
Que rumam.. que rumam...

Vou

Mas volto...

terça-feira, 9 de março de 2010

Chega

Mais.

A foto

A foto me chama.
Olho para ela e ela olha para mim.
Quero ver a foto se mexer.
Tento falar com ela.
Não consigo.
Mas a foto grita para mim.
Eu sei que ela me quer.
E eu também.

sábado, 6 de março de 2010

Eu não conheço nada.
Sou um desconhecido.

Coisas que só vêem em Natal (ao menos eu vi, pelo menos)

Maninho tomar um fardo de ceva enquanto espera na fila do caixa rápido no Carrefour.
E ainda te dar um cartão comercial por que ele é advogado.

Roots.

P.S: a ceva tava gelada
P.S.2: demora pra caralho esse super....

sexta-feira, 5 de março de 2010

Cresce

Aparece.

Nós

A todos, um muito obrigado.
A todos, um grande abraço.
A todos, um até logo.
A nós, um parabéns.
Que logo estaremos juntos pessoalmente.
Que sempre estaremos juntos em nossas memórias.
Vocês fazem parte de mim.
Isso nada mudará.
Essa é a beleza da amizade.
Essa é a nossa beleza.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Para Carl

http://www.youtube.com/watch?v=w4buy8n_WKk

terça-feira, 2 de março de 2010

Mantém o espírito

Mantém o espírito piri-pirense, mesmo que ameaçado...
O espírito capão, com ciclone e tudo!
Mantém o espírito da villa e do beco,
O espírito da redenção, com mate, ressaca e violão.
Mantém o espírito mutante, com a maior furada de fila da história!
O espírito capão dois, carnavalesco.
Mantém o espírito dos churras! Com caipa, ceva e batuquera.
Enfim, mantém o espírito do bonde.
E traz um pouco da malandragem natalina
Pros remanescentes do porto.
Pode ser pra tomar, pra acender ou pra dançar.
Ou pra tomar aceso enquanto dança.
Forte abraço!
Nós vamos manter.

Reflexões de uma amígdala super estimulada I

É impossível ser um só.
Não há como definir o que se sente.
Vontade de ir e ficar.
Poucas certezas,
Mas não preciso muitas.
Só as mais importantes.
E uma delas é recíproca.

Corrói e faz cócega.

Vamo que vamo

É assim que brinco

visto todos os tecidos
sem saber ao certo o que cobrir
se a festa for tão longe e além da saia
também ao coração queira eu despir

vou beber perfume e vinho
e dançando vou te embriagar
te envenenando com carinho
deixo meu suor aos poucos te drogar

pôe outra lua no céu a girar
destrói o mundo e faz outro por mim
senão eu não brinco
olha que eu me canso
olha que eu não fico
senão eu não danço

minha medida é a água do mar
aumento a sede de quem me sorver
é assim que brinco
senão eu me canso
senão eu não fico
ou então não danço
Felizes das orcas que comem seus treinadores!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Preto






No branco, é tinta.
É risco.
Desordenado que forma palavra.
Que faz sentido.