sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Chuva

Chuva, é ela que vai
é ela que vem e que vai.
Não é doce nem salgada,
ela é somente calada.

É ela que  molha
infelizmente ela não olha.
Para ver a felicidade
no campo e na cidade.

Num dia de chuva
tudo fica como a lua, esburacado,
coitado é o carro, que passa depois
cheio de buracos, fica todo despedaçado.

Chuva, é ela que cai
é ela que vem e que vai.
Não é doce nem salgada,
ela é somente calada.

Fernanda Rodrigues e Ana Carolina Bronizaki

sábado, 22 de setembro de 2012

Crônicas do REM VII

O campo verde está todo cercado. E no limite dele há um precipício, onde eu me equilibro segurando num arame da cerca. Lá embaixo vejo um banhado feio, nada bom de cair. E adiante, se eu sigo pela beirada do precipício, posso chegar numa floresta seca, só com árvores sem folhas, vizinha do campo.

O campo verde cercado, a floresta seca e o banhado. Entre os três, num precipício, eu.

...

Noutro momento, tiros. Todos atiravam em todos. Até quem parecia bom, escondia uma arma e matava. Um sonho a la Tarantino.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Hoje ainda é sempre.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

(Socorro)

Diante das tuas palavras
te dou uma cara de gesso
e esculpido em gelo um coração

Fiz só de fumaça a alma

(Só que às vezes ela afoga
e aqui dentro eu choro)

Não espere dele riso nem razão
Fiz só disso o mim que vês
Não espere dele amor ou uma moral
Fiz só disso...

Meu disfarce de fumaça, gelo e gesso.

...

Mas às vezes um teu cheiro, um cacho
ou tua falta no meu peito
tua ausência há dias
e a canção vazia de tua voz
no apartamento escuro de tua magia
cada disso parte um pouco o gesso e eu te vejo!

(Me reviro, como houvesse me enterrado vivo).

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Musa bagunceira

Me encontrou
daquele jeito
encantando como quem só caminhasse

E foi-se
desse jeito
correndo como quem por quem passou nada mudasse

Frente à bocas semi-abertas caem suave as folhas levantadas...

Descartes da vida

A unidade mente-corpo
descoberta e venerada

subiu

Ficou só mentalizada
levou todo o resto junto
deixou só toda a carcaça

sucumbiu.

Assim como o talco

Essa dor salgada e contraída
é contra o que inventei de mim a luta
o requisito do repudiado
o braço dado à vida já torcido
é a procura pela reconciliação com desprezados

Ser completo é uma virtude
e é preciso sê-lo antes de tudo
sente fome quem só gasta a prata em vinho

Nunca é tarde
nada é pronto
nunca a crítica machuca
se colhida de cabeça aberta e alta.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A paixão segundo G.H.

"Fecho os olhos, e no nu descoberto
sinto o vento me trazendo
memórias, toques, sensações..."

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Se eu não enxergar
o que houve comigo
e eu não assumir
como eu me senti
nós vamos continuar batendo a lata contra a carne

Se eu não for ao porão
e tirar toda a tralha
se eu não for ao baú
onde estão as baratas
e sentir o cheiro podre das carcaças
as palavras serão sempre em vão
e um tapete estará sempre ao chão
cobrindo os buracos na madeira sustentada
por colunas de concreto e aço.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O abraço do polvo

Chega em movimentos lentos
apalpando em toques leves
mas lhe agarra logo a língua
a presa assim deixa que a leve

Agora os outros cinco tentáculos
transpassam fácil por entre seus membros
e a presa já entorpecida ajuda
entrega o corpo ao melhor do ataque

Ela sabe que morrendo o mata
Seis tentáculos
Não Octopus.

Poema feio

Era pra ser bonito
ou pelo menos triste, e só
mas ficou feio
com um quê de satânico

Aquele carneiro preto
menor que um poodle
ainda não tinha morrido
não antes do barulho de concreto
(e osso)

E aquela ovelha branca, a mãe
ainda não tinha desistido
de espantar galinhas no arredor
não antes de surgir a nova cor
(vermelho).

Rockoem na rodovia noturna

Dentro da rodovia noturna
a única luz é o teu farol
e a única vida a tua
Não importa se lá fora tem zumbis
que se parecem com você quando é dia
Agora não, John
Dentro da rodovia noturna
a locomotiva respira por narinas de metal.

sábado, 4 de agosto de 2012

Primeiro estrelas
depois névoa acima d'água
e sobre a mata.
E lá da mata a vista
das pessoas numa mesa de jantar.
Tão distantes quanto estrelas
e tão turvas n'alma quanto a mata atrás da névoa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sabonete

O que acontece com uma coisa depois de já haver estado nela?
Depois de já a ter coberto, servido de chão ou de paisagem dela?
A ciência diz "associação"
Bobagem pobre, excesso de simplificação.
Bem mais certo é que fica tudo com cara de bosque no inverno
Onde outrora haviam grilos e cigarras, borboletas, gralhas, pica-paus...
E que agora em mim desperta instinto de verão - Vontade.

De terras distantes

A maior honra que esta cidade já teve ela não sabe
Foi ter tido uma princesa andando aqui, por estas ruas
E é por isso este lugar, não por ser onde vivi, sagrado.

Alto-falante

À noite era o barulho do coração que de tão alto não me deixava dormir. Igual aqueles relógios chatos. Mas na verdade devia ser outro o motivo. O mesmo que também não deixava ele se acalmar.

De manhã bem cedo, antes de clarear, estava calmo o coração. Batia baixinho. Mas a cada "tum" fazia um "clec" em alguma madeira da cama, na cabeceira.

Como quem diz algo em sussurro no microfone.
E não me deixava dormir.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Crônicas do REM VI

De baixo de gigantes folhas de repolho me escondi dos índios que passaram logo mais na rua, ali em frente. Com seus carros e alto-falantes anunciaram indiretamente a mim, já avistado, que não havia razão para se esconder por medo de compartilhar as terras, sendo ainda inverno. Me escondi em vão. Por um medo infundado.

terça-feira, 24 de julho de 2012

"Experiência...

... não é o que aconteceu com você, mas o que você fez com o que aconteceu."
(Aldous Huxley)

sábado, 21 de julho de 2012

Passarinho

Trocaria vidas todas sem você por essas horas
Não faz nem sentido olhar imagem quando é suficientemente forte na memória
Tu parada ali me parecendo uma montagem
Um recorte d’outro mundo, uma miragem
Foste o dia mais feliz desse meu dia

No rádio, uma canção de amor entre as notícias
Na missa, uma criança ao ir brincar no pátio
Do meio da aula maçante foste aquele passarinho, na janela
E da vista da janela, num céu cinza em movimento
Foste azul...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Esse não é sobre amor
É sobre um dos seus filhos
Ela, a insanidade
Aquela que confunde amor ao mundo e ódio próprio com amor próprio e ódio ao mundo allternadamente e rápido em uma imagem só de estroboscópio estático ambulante
O sentimento que não se permite
O tagarelho antipensável e o comportamento espásmico do pensar que resiste
E s'esvanece

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Acho que é difícil mesmo uma ilusão ou sonho que produza a tua figura como a tenho agora. Tenho o teu tamanho entre minhas mãos.  E a textura, o cheiro, olhar... Não os olhos, mas olhar; o movimento indetectável senão pela empatia, expectativa, curiosidade, vontade. Tenho-te sem ti. Exatamente aqui, onde te deixei... Ir.

Se

Não, não estou bem
E nem consigo mais falar contigo
E essa mudez não é de agora
Já sentia antes pelos teus ouvidos não saberem o que eu quero
E é precisamente essa a mudez que me atormenta
O que eu quero é te chamar, pra que venha aqui
O que eu quero é ver você entrar ali, naquela porta, como da última vez, pra que eu sinta tudo aquilo outra vez.
Mas quem sabe agora eu deixasse aquele medo estranho de lado, e não achasse que você está tão forte como achei.
                                                          
Tua beleza aquele dia tinha toda a tua beleza e tua segurança
Também tinha em tua beleza a tua distância
E é por isso que teu cheiro, mesmo sendo o mesmo cheiro, pareceu como a primeira vez
Quando tu não era minha
Como agora.

Se você entrasse ali de novo...
Se eu falasse, se eu pudesse
Se adiantasse.


Escolhi que tua cintura seja as minhas mãos
Que meu ar seja tua boca
Mas que se não forem sejam todos olhos e imaginação
Para sempre, como religião secreta do meu mundo interno.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Crônicas do REM V

Caminho por um corredor estreito, entre um muro e a parede externa de uma casa. Dobro à direita, contornando a casa, e o corredor se torna bem mais estreito, apertado. Não consigo mais voltar para o corredor mais largo, por não conseguir me virar para fazer a curva neste sentido. Sensação ligeiramente claustrofóbica.

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Caminho à noite, talvez de madrugada, por ruas desertas. Uma das lojas, com luzes acesas, porém sem ninguém, está aberta, propositalmente. É uma loja de colchões e a deixam aberta para publicidade, para que andem pela loja (corredores estreitos cercados por colchões) e vejam os produtos. Um sensor com alarme não permite que se fique parado muito tempo no mesmo lugar, para que as pessoas não durmam ali. Quando estou lá dentro penso "tenho que trazer a Gaia nesse lugar!"

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Caminho por muros entre casas vizinhas e vejo ao lado, um pouco longe, um leão. De perto vejo que tem formato de gato (mas é um leão). Volto para onde estava antes e haviam gatos e vejo agora que há alguns filhotes mortos.

sábado, 23 de junho de 2012

Lar, doce lar!

"Aquele que lê muito e anda muito, vê muito e sabe muito" (Dom Quixote)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tua natureza é uma formiga, um gato
Um passarinho, um dinossauro

Morango e pêssegos
Jabuticabas e maçã

Constelação
Raios de sol

Morros e vales

E não etéreo como o bíblico
Por tudo, além de tudo
Paraíso

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Conscientizo a minha boca
porque alguma coisa falta
Sopro pra sentir um algo, mordo, contraio e pressiono
É como andar nu e ter a temperatura do dia bem clara
mas no lugar da temperatura é um espaço, pra fora e por dentro
vazio de toque
vazio do beijo

Na cintura,é onde começa
ela solta a parte de cima do corpo pra trás e eu a aproximo
ela sorri de canto, sem abrir os lábios
eu seguro a nuca dela, por baixo dos cabelos
e a aproximo mais, devagar
Toco os lábios dela com os meus
Cheiro a respiração
.
.
.
Daí o resto do mundo desaparece...
Sim, e não é porque eu fecho os olhos
Porque o tempo do mundo também desaparece
O pensar desaparece
O que é feito nesse instante é simplesmente despensado
O que é feito nesse instante é um instinto instantâneo
Um querer conquistado
Uma daquelas coisas que se descritas como querendo dizer a sensação exata fica uma falsidade de tão longe do real.
E não é porque é um beijo
É porque é O beijo, 
o beijo Dela
Minha veste contra o frio do espaço.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Às vezes o que mais nos faz bem faz chorar
E às vezes dói
O que é forte é sentido
Mas nem sempre sorrido...

Hoje faz dois anos que eu guardo aquela foto na memória
A da menina desconhecida que apagou o mundo ao seu redor e depois deu novas cores a ele, vivas como nunca antes.
Soubesse eu tudo o que depois viria
E ora penso que faria tudo igual pra ver tudo de novo o que veio
Passar tudo o que passei e sentir tudo o que senti
Daquele exato instante até hoje, com a flor azul nos cabelos e os dedos de pianista segurando um pouco de calor nesse dia frio de fim de outono, e seguindo pra amanhã, que tem sempre a chance de ser tão perfeito como o ontem ou melhor, já que o melhor com ela é sempre novo e cada vez melhor.
Outra hora penso que nem tudo igual faria
Que de algumas lágrimas eu pouparia aquelas sardas
Ou que outras razões daria à existência delas, mais felizes.

Nesse momento quero dizer que ela dança nas ruas e nas lojas
e no supermercado e na cozinha.
Os mesmos lugares onde ela canta, como um anjo.
Que ela chora por medo da morte
Que ela tem os olhos mais doces e poéticos do mundo
Que a música é o seu refúgio e que eu, quando a vejo com ela, a música, as duas, lado a lado, às vezes não consigo separar bem uma da outra.

Nunca quero que sintas dor
Às vezes o sol bate nos olhos
Sempre te amo.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Auto-retrato

                           
errado
erradoerrad
rradoerrado
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adoe
oerradoerradoerradoerra
errad   adoerradoerr    rrado
rrado   erradoerradoe    errad
 rrado    doerradoerrado    errado
 oerra     rradoadoerrado     radoe
 errad      erradoerradoerr       rrado
  rado e    oerradoerradoer     d  oerr
 errad o   erradoerradoerra     r  rado
 erradoe     erradoe 
erradoe      doerrad 
rradoer         rradoer
erradoe            oerrado
rradoe                oerrad
adoerr                  errado
 adoerr                      oerrad
 doerradoer                     radoerrado

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mente

Mente
Mente
Mente
Mente
Mente
Mente
Mente
Mente
Mata.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A primeira música

De la américa diretamente para la tristan narvaja enquanto eu passo
Um afino de violão e de repente ela invisível
pelo ouvido atinge o peito
bem ali, onde eu não posso ter sequer seu cheiro
ela comparece em [melodia]
(palavra que deve ser a contração e redução de "me ilumina o dia")

Das vezes que vejo ela vindo, às vezes tenho certeza que se me fosse estranha eu me apaixonaria ali de novo.
Outras vezes vejo ela vindo e sinto o que sei, que sei quem vem vindo, e justo disso eu sinto tudo o que ela é além de vê-la sem sabê-la
sinto tudo o que ela é e não se vê por fora
e me apaixono de novo.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Estante

A depressão da humanidade nunca esteve tão clara:
A gente constrói um objeto pra a gente mesmo
e fica olhando.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Com fiança

A confiança foi julgada.
Julgada e condenada.
Solitária, para todo o sempre.
Mas com uma condição.

A volta?

Do proto-autor potiguar?

terça-feira, 27 de março de 2012

Família

Eu vou adotar um gato.

Macio

Não como um travesseiro ou algodão
Mas como as nuvens que nunca se toca
Só que no cabelo dela eu toco
E ainda assim é como as nuvens que nunca se toca

Ela é a sensação exata de tudo aquilo que nunca sabemos como é
Mas idealizamos.

Posnúncio da estação

Chegou enfim o outono
uma esfriada
sete dias depois do oficialmente dito

Tava com saudades desse teu casaco pardo
do andar lento porque quero, não que sofro
do ventar cantar o ensaio do que vem mais tarde
desse sol não ser maldito.

sábado, 24 de março de 2012

Ela me faz querer ser um polvo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Da experiência

Você precisa acontecer para saber como é
Você precisa sofrer metamorfose para saber como é metamorfose
Você precisa sofrer para saber como é a dor
Você precisa amar para saber como é amor
Você precisa viver para saber como é a vida
E você precisa morrer para saber como é a morte.
Você até pode ler as fases, mecanismos, causas e transformações
Mas se você não passa, tudo isto é o que é, não como.
Você precisa perder para saber como é não ter depois de ter
E toda tentativa de ensinar como é um algo para o outro é neutra
Porque ao outro você é coisa externa
E tua voz, o teu escrito, o teu estudo, a tua arte
Toda tua sincera descrição do como se converte n'o que é.

Emotivas máquinas de produzir conceitos
Como bolos mal-assados
Insetos
Moles por dentro, duros por fora.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

domingo, 29 de janeiro de 2012

Noturno

Queria conseguir dizer o que eu to sentindo.
As memórias que eu tenho de ti vão desde a sensação exata de tocar cada pequena parte do teu rosto, até dias inteiros que no fim, ou ainda alguns só agora, eu vejo que foram perfeitos.
Do limite entre o canto da tua boca e a bochecha, até uma música que tu tenha cantado andando pelo apartamento.
Te amo, do fundo do coração.

sábado, 28 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Perto

O que me leva longe
mais que o céu do campo à noite
limpo
o melhor vinho
a melhor erva

O que me leva longe
mais que o melhor solo de guitarra
ou de piano
a sinfonia
o oceano

Mais que tudo
o que me interiormente leva é o cheiro dela
para longe de estar longe.