quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O LIVRO

Jorge Luis Borges 

Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Dediquei parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra forma de felicidade − menor − é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de esquecimento e lembrança do que lemos.
Devemos tanto às letras. Sempre reli mais do que li. Creio que reler é mais importante do que ler, embora para se reler seja necessário já haver lido. Tenho esse culto pelo livro. É possível que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético. E não quero que seja patético; quero que seja uma confidência que faço a cada um de vocês; não a todos, mas a cada um, porque “todos” é uma abstração, enquanto “cada um” é algo verdadeiro.
Continuo imaginando não ser cego; continuo comprando livros; continuo enchendo minha casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 da Enciclopédia Brockhaus. Senti sua presença em minha casa − eu a senti como uma espécie de felicidade. Ali estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e gravuras que não posso ver. E, no entanto, o livro estava ali. Eu sentia como que uma gravitação amistosa partindo do livro. Penso que o livro é uma felicidade de que dispomos, nós, os homens.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

No dia em que eu te vi eu não fazia ideia de quem tu era
nem de quem tu iria ser pra mim. Eu só tinha uma decisão muito clara em mente: sair. Sem me preocupar com "a estrada para além da curva da estrada".

Nossos lábios e braços se encontraram um tempo depois, mesmo que os meus olhos já tivessem te encontrado um pouco antes.

Depois disso, o que eu lembro com mais força é mais ou menos o seguinte:

Sol (aquele bem macio)
Mato (o mais cheiroso)
Fogão à lenha; e aqui tu vai concordar comigo que é merecida uma pausa.

Faz exatamente um ano, hoje, que esse fogão à lenha e tudo que estava ligado a ele - o chão de madeira, o ar quente, a penumbra, o colchão, a vela verde-azul e, louvadas sejam as coisas sagradas mundanas, aquilo que estava ali em toda parte e que entrou em nossos corpos e chamamos até hoje de Amor - representam pra mim um começo.

Tu me mostrou a Realidade na sua forma mais bonita e simples.

Tu escreve Bom Dia com maiúsculas, e talvez tu não saiba, mas isso simboliza muito bem a forma como tu leva a vida, e eu quero continuar levando ela assim mesmo contigo. Bem assim. Dando a devida importância e intensidade às coisas do agora. Porque afinal de contas, a vida é feita de dias, de momentos, e o sagrado está em tudo, pra onde quer que olhemos com a devida calma e atenção. Hoje eu olho pra ti com a devida calma e atenção. E te digo: nunca foi tão bom acordar de manhã.

Te Amo!