domingo, 26 de janeiro de 2014

Divagações de dezembro

A natureza é cheia de particularidades
e entenda o que quiser por natureza
isso também faz parte do que me refiro

Vejo meu vô caminhando
e vejo meu pai no seu jeito
e me vejo
e essa linha imaginária
descontínua
tem força em cada nó
no juvenecimento
e se enfraquece como um todo
e se dilui

Vejo meu vô caminhando
lá longe na estrada de chão batido
ao longo da cerca
e fico imaginando que ele deve retomar
talvez sem nem pensar
sentimentos da infância
talvez o caminho que fazia pra escola

Vejo essa criança de olhar ingênuo na minha frente
e penso na distância que entre ela e meu avô existe
não do tempo
mas na decorrente dele que há agora
nesse instante
no cruzar de olhares com visões tão diferentes de tudo
o que os torna quase incompreensíveis entre si

Penso na diversidade de visões que cada coisa dá
e que essa própria propriedade em si
pluralidade de visões
é também um elemento
coisa
tipo uma espécie de bicho
que também é um coletivo de diversidades

Penso enfim que essa pluralidade é eu
somente eu
e tiro um peso enorme das coisas
que não tem pluralidade alguma nelas

toda ambiguidade é dos espaços.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

o futuro é um deus morto

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

"Eu queria estar agora..."

Você queria estar agora
onde você não está.
E assim lá seria
e assim sempre será.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Toda filosofia e ciência dos homens
fala a respeito dos homens e mais nada

Assim como todo poema
só diz respeito ao poeta
e não das coisas e das amadas.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Insustentável

Três trilogias
precisam ser registradas enquanto são três
antes que sejam quatro ou cinco

três trilogias:
paisagem
sincronia
e representação

mas com a trilogia das trilogias
são quatro, droga.
eternamente condenadas
a não serem três

se eres dois
não eras
se eres quatro
muito menos

a trilogia das trilogias
eternamente condenada a não haver
presa entre um dois e um quatro
igualzinho um três.
De repente haviam três garrafas na mesa
uma com vinho
uma com cera
uma com fogo.

sábado, 4 de janeiro de 2014

As músicas devem dizer muito sobre cada um
elas realmente devem
devem ser um tipo de retrato da alma que nem o próprio sujeito conhece

O problema
ah, o problema...
é que não se sabe de história nem estória de qualquer passagem de uma esquina de jornal
que detalhasse
ou muito menos
mencionasse
algum dos fios do emaranhado que conecta a canção à alma

e fica com platéia surda e pasma
pro que diz de cada
Nada.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A eternização

Cohen
Tocava Cohen
Death of a Ladie's Man
o álbum e a canção
a mais linda do álbum
e a última.

Olha pra vela e ela está no fim
na base

A música está no fim.
O álbum está.
Começa a sentir medo de que a sincronia seja perfeita
Faltam cerca de dois minutos
Não pode ser


Mas foi.
Até o esmaecer da brasa do pavio foi sincronizado com o esmaecer do som.


(E da ausência uma existência...)


Um calafrio misturado com riso


Depois acreditou,
Genuinamente
por cerca de meio suspiro (tempo insuficiente pra diferenciar sensação de crença)
que se voltasse a música veria aquilo de novo


Não quis voltar
Tão ruim seria que reacendesse
Quanto que não

Era morta a "ladies' man".