sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Crônicas do REM IV

Era uma praça grande em frente à igreja. Amarrado num galho de árvore, um balanço de corda, a uns três metros do chão. Um jovem de não mais que 18 anos pendurado de cabeça pra baixo se balançava e cantava em alemão. Cantava só pra si, ensaiando pro coral, lendo o livreto, em pronúncia perfeita do idioma. Mas o povo todo ouvia. O canto dele enchia a praça de beleza e alegria. As pessoas caminhando por ali apreciavam e acabaram por simpatizar com o rapaz.

Depois era do outro lado da rua que ele estava, num jardim ao lado da igreja. Um gramado cercado por muro baixo. E foi num daqueles acidentes estúpidos, que acontecem em um segundo, que um pequeno monumento de mármore o derrubou. Depois do som do impacto, um silêncio. Mais alto do que o de antes, porque as pessoas pararam repentinamente de andar. Era um silêncio de espanto. Me aproximei e vi que o corte na cabeça era profundo. O bastante pra não dar mais esperança. O bastante pra não criar alvoroço, só o choque e paralização do povo. Tentei telefonar pro socorro ainda assim, mas não deu.

Mais afastado, vi o corpo sendo guardado num saco fechado com zipper. E as pessoas retomaram seu andar, simplesmente. O silêncio voltou a ser mediano. Não tão cheio como o da canção, nem tão vazio como o da morte.

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