terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Minha fé

Existe o bem
e existe o engano.

Existe o belo e a cegueira.
Existe o amor e a delusão.

Existe o bom demais pra ser mentira 
e o ruim demais pra ser verdade.

Ao sábio "... se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim", de Sabino, acrescento: ou porque você não viu que já está certo.

Felicidade é aceitação 
que vem depois de uma visão correta.

Se algo lhe parece mal, errado ou feio
olhe de novo e de novo e de novo
De outro ângulo, mais de perto
Mais de longe. Mova-se! Pare.

O belo é a aparência do bem, da verdade.
Perseguindo o belo, se alcança o bem.
E o bem é o particular conforme a talidade.

Praticar o bem é, portanto, agir em harmonia
com as coisas como são de fato - uma.
Eterno é o todo, e tudo dentro é passageiro.

E, finalmente: amar alguém é o sentimento decidido e a prática do esforço para o mais constante e primaz assassinato de uma delusão - a de si próprio - com o intento último de lhe fazer o bem.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

De azul, eu sou apenas olhos 
Duas pequenas íris 
Tuas discípulas-guardiãs.

Mas, você 
Você, meu bem
Você é todo o céu
Que dá vida ao arco-íris!

sábado, 14 de dezembro de 2024

Tua fé

Por detrás da dor, da tristeza e complacência
Como na tua foto em preto e branco
Teu sutil sorriso, quase oculto.

Do outro lado das pupilas, da retina, no pensante
Em meio ao sangue, atravessando o coração
Você sempre soube o muito mais que havia.

Você sempre soube que através dos céus
Aqueles pássaros voavam de um lugar
Para algum lugar melhor, em tempo.

Você sempre soube que além do horizonte escuro
O sol não nasce ou morre, muda apenas de lugar
Banha as almas frias e ilumina o mar. O mar!

Você só voa agora porque sempre soube
Como os pássaros que vão, sem ver o destino
Porque sabem seu rumo e são sedentos pela vida.

O teu vôo é lindo, belo como se uma chuva 
Adquirisse cores e se rebelasse num ballet
E aqui, nessa ilha, antes do inverno há de pousar.

Eu já descobri o que há de mais bonito em ti 
É tua fé, que move as asas e esse coração pulsante 
E quando livre e confirmada, aclara em teu sorriso!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Bom dia, céu azul!
Luz amarela!
Todas as cores!

Menina de preto!
Olhos castanhos!
Mar de todos meus amores!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Oi
Eu vou aí
Aperto o interfone e tu desce
Saímos correndo, correndo até cansar
Paramos no primeiro café ou bar
No primeiro banco ou num sem banco à beira-mar
Molhados de suor e chuva, ofegamos, rimos
Encontramos música em algum lugar
Curtimos e de pé, feito bêbados bem lúcidos, dançamos.

Tô na vibração do super andarilho, nessa essência
Adeus estranho, pega o rumo de casa, canta a canção lógica
Um café da manhã na américa, do sul! Conquistaremos essa ilha
Saltando cada meio-fio, pisando em cada poça
Sentando em cada pedra e se largando em cada praia.

Me dá a mão, que agora é caminhada
Ei, quer ser minha namorada?
Sei que já pedi tua mão, mas, até lá
Quer ser minha namorada?

Tem um show legal à noite, está cansada?
Eu alugo um quarto, olha só o tamanho dessa cama
Desabe, tome um banho e se desabe, depois eu
Durma e vamos, que essa noite é nossa.

Minha nossa! Como é linda... 
Posso dar um beijo aqui, nesse canto do teu rosto?
Olha a minha namorada
Ela é a única que eu quero nessa vida que me resta.

Na na na na namorada
Na na na na namorada
Por que dizer tchau, e não só um até logo?
Até a próxima volta, até a próxima dança.

Na próxima eu te levo até Montevidéu.
Ei, posso dormir aí?

sábado, 7 de dezembro de 2024

Avessos campestres

O habitante que parte e a casa que fica
A pequenez herbácea e a araucária
O tão longe do horizonte e o chão
O calor da hospitalidade e o frio
O abandono e a preservação
Os campos da coxilha rica.
Na coxilha rica de horizontes, sempre à vista
Como não se ver imerso em imensidão
E não achar a solidão bonita?

Ondulado e pisoteado, doura verde o chão
Integrando a araucária ao gado e à gente
Preservando entre as taipas, anos.

Ainda se vê em campos serranos
Seu veado campeiro e sua tropeira, a patativa
Leões baios, siriemas, graxains e gaviões.

Muda a luz, vê-se novas flores que já estavam
Bacurau que era dormente, agora aviva
E anoitada, sua penada alma alça vôo.

domingo, 1 de dezembro de 2024

Eu preciso colocá-la em partes do meu dia
Escrevendo, lendo, ouvindo, a pensando...
Porque só assim eu vivo a realidade 
Que, na minha, tem ela.

Será mesmo?
Colocá-la onde ela não está não é justamente o oposto?
Não é se esvair da realidade presente, dela ausente?

Sim, eu disse errado.
Eu preciso colocar o amor que tenho por ela em partes do meu dia.
Preciso espalhá-lo ou plantá-lo ao longo dos canteiros e ponteiros dos meus dias.
Agora sim. Porque só assim eu vivo a realidade
Que, na minha, tem o amor por ela.
Mesmo se não tem ela.

Quem ama não sabe viver sem amar.

O amor é como aquele meu primeiro sonho com ela
Em que "nos trancamos" do lado de fora, "dentro" do pátio, pra ficar a sós, brincando um com o outro. 

Amar é ser incapaz de não ser feliz.

É um sair-se que não quer mais voltar.
É um trancar-se fora de si com quem quis o mesmo.
O amor é esse pátio da vida.
É limitado, em volta, porém aberto, em cima.
Tem coisa que tem hora certa pra ser.
Quase tudo.
Ou tudo.
Ou...
Nada?
Tudo tem, sim.
Mas só depois que já aconteceu.
Porque tudo que já aconteceu é certo.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Raios

Ontem, na volta 
Com tormenta armada
Antes que a chuva caísse
Supliquei ao céu tenso, elétrico 
Que um raio partisse essa corrente
Que ninguém solta, e que ele partisse
Libertando os três do passado
Para que viver hoje possa
Ser hoje plenamente
E não aquém.

Mas isso foi antes que a chuva caísse
Diluísse e lavasse as águas
Aliviasse as tensões e
Derrubasse o pó
Madrugada
Agora, que amanheça
Mas que eu antes durma
Conseguindo, enfim, despertar
E que os raios a agirem sejam de sol.

domingo, 24 de novembro de 2024

Hoje, quando pensava na ausência, Mestre Caeiro me lembrou: preciso vê-la para pensá-la verdadeiramente. Como preciso ver a água para pensá-la verdadeiramente. Ou seja, sem pensá-las.

Porque agora, na ausência dela, se penso nela, tudo que pensar serei eu, o que sinto, o que lembro, e não mais ela.

Quando apenas penso, sem ver, é uma grande pobreza de tudo e um excesso de mim.

É por isso que é tão bom estar ao sol ou sobre ou dentro d'água, ou diante dela.

Na ausência, sequer se pode pensar na ausência, porque a ausência não é uma coisa.

A constatação da ausência nada mais é que um ressaltar de si. Um relembrar-se de si. Por isso é desagradável constatá-la demais.

E é por isso que sinto essa necessidade de estar sobre a água, sob sol, alvejado pelo vento ou com os dedos enfiados dentro do chão. Para descansar de mim. Para ver e sentir, sem pensar. Sem lembrar de mim.

E é por isso que amar é morrer em. Esse tanto querer amá-la para fora - querer ver, dar a mão, ouvir, abraçar, dar carinho e atenção, dançar e contemplar - é a vontade do descanso eterno.

E vai ver que é daí que vem a insaciabilidade da paixão: do constante ressuscitamento de si mesmo.

Viver o amor deve ser uma batalha interminável contra o eu, pela paz, no outro, pelo outro.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Anoiteceste em mim 
E eu, que estava ao sol 
Pude ver, assim, tua brilhante 
Solitária e branca estrela distante. 

Harmonizamo-nos, enfim 
E eu, que sempre gostei de ser só 
Pude ver, em ti, como nunca dantes 
Como achar na pedra bruta o diamante. 

Comungando versos e conversas 
Ouvindo sonatas, compondo sonetos 
Transmutamos ao bem, pelo belo, a dor. 

Com tua branca luz me conduziste, Diotima 
Ao vale mais íntimo da minha anima 
À morte em plena vida, o amor.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Como ser triste 
Se o hoje é tudo que temos 
Se o hoje é tudo que existe 
E o hoje é suficiente? 

Se o horizonte que vemos 
Sem saber quão distante 
Já clareia o bastante 
Como não ser contente? 

Não toco o sol, mas o recebo 
E se não vejo, o percebo 
Pelas cores e o calor. 

Não sou triste, então, mas fico 
Faz parte da felicidade que persiste 
Esse, quando me despeço, ficar triste.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

É bom lembrar, às vezes, que também somos humanos
Que apesar de todo o incomum, raro e anormal da relação
De nos sentirmos, sem nunca termos enlaçado
Espíritos voantes de mãos, veias, mentes e almas dadas
Entrelaçadas num laço de eterno agora

É bom lembrar que, apesar disso, somos algo mortais e terrenos
Com segurança hesitante, o dizer nem sempre suficiente e claro
Resquícios daquele infante que, no sentido inverso ao fruto
Primeiro cai, depois amadurece e cresce!

Pequena história

Primeiro, eu vi nela a noite 
Linda, misteriosa, distante e serena 
E me apaixonei. 

Depois, eu vi nela a profundidade 
Buscando o bem e a verdade em Platão 
Na filosofia como um todo, no esoterismo 
E a paixão cresceu. 

Depois, eu vi nela a gratidão 
Dirigida justo a mim, tão ninguém 
De um jeito que eu nunca tinha recebido. 

Depois, veio à tona a sintonia, a harmonia 
O crescimento e a descoberta mútuos 
Com as sínteses, vi nela uma mentora 
E o valor único e inédito dessa amizade. 

Foi, pois, nesse solo fértil, pulsante 
Nessas almas conscientes e iluminadas
Que brotou, dos nossos corações, o amor.