segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Manhã de segunda

Encostado na têmpora direita, o orifício da pistola. Na beira da calçada das butiques chiques. Uma pessoa a cada três, quatro segundos lhe passava. E não fosse caminharem e a ausência de uma arma apontada para a própria cabeça, seriam do mesmo tipo dele. Do mesmo tipo.

Mas apenas uma a cada cinco, seis, lhe cediam o olhar, e era sem muito interesse, como se ele estivesse segurando só uma câmera ou algo assim. Então ele abaixa a arma, decepcionado e um pouco puto com aquela gente toda, a guarda num estojinho e se mistura à massa andante. Só um pouco mais lento do que o resto.

Sete minutos depois já respeitava o metrônomo social.
Era indistinguível.

domingo, 29 de setembro de 2013

Tem coisa que a gente pensa que acha bonito pela visão mas que na verdade só admira o que sabe sobre aquilo.

O que sabemos. Não o que vemos.

Por exemplo a lua:
Tem aqueles postes de bola que de noite às vezes parece igualzinho uma lua gigante,
e a gente não fica admirando o poste,
porque sabe que é só uma bola de vidro com uma lâmpada dentro.
Eu fico aqui esperando a manada passar
assistindo a luta pela sobrevivência
quadrada
nos dois sentidos da palavra:
a tara pelo ângulo reto
e a caretice do todo mundo ordenado
tu-do-or-de-na-di-nho

a luta pela "sobre"vivência
enquanto espero pra atravessar a rua.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Narciso

O céu é o maior buraco do mundo.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Intrinsicalismo ou associativismo

O que eu me pergunto é:
será que se o céu fosse verde
e o mato, azul
e tivesse sido sempre assim
ainda teríamos os mesmos sentimentos?

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Alternativas a um mundo agendado

Sempre tem uns segundos no ano
que eu preciso me relembrar em que parte do ciclo estamos
e me faz pensar como seria
se de fato nunca soubéssemos o que está por vir.

Será que teremos dez meses de calor? Ou um dia apenas?
Será que tá vindo uma noite aí? Quando voltaremos a ver o sol nascer?

Na real não sei se a gente sabe mesmo
ou só acerta bastante e vive achando que sabe.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Expectro de setembro

Tem existências que só se nota na transição

...

Sigo uma folha e ando de novo entre as mirtáceas
Confirmo nos olhos, sem ver, na pele e fundo das narinas
Um suor das coisas que não sei bem quê
Mas que transpira e, a despeito do que vem dos matos e umas flores, não é todo cheiro
Tem isso nas cores e nas (ditas) mortas superfícies, agora
Como se expirassem a alma que dormiu um inverno inteiro.

sábado, 18 de maio de 2013

Volta na quadra

Tempo suficiente pra criar e abandonar toda uma filosofia.
Gosto de músicas que vêm de fora
Digo da janela, ou mesmo ouvindo rádio
Que não seja eu que escolhi
É como se, no mato, eu pusesse um pássaro
um pinheiro ou uma flor
pra ver
Quando escolho, digo.
Quando vem de fora é parte do ambiente
me parece
Vem mais natural
Tem essa de receber
Mais sentido em contemplar.

A Véspera

Olhe aquele cara ali
Sozinho entre cem mesas
Sob um toldo decorado de holofotes verdes
Que engraçadamente ele acendeu pra si
Nessa noite úmida e vazia
Amanhã tudo estará cheio.
...
..
.

Amanhã só? Tudo cheio?
E essa brisa silenciosa de melancolia?
E o reinado da canção que ele escolheu?
E a profundidade do momento?
O trago, o medo, a falta, o ermo?
O nada!
Amanhã tudo estará tão vazio...

Natureza urbana

Pombas descansam no alto de um monumento
Na calçada o festival eterno de momentos

Passa um parecido com lisboa (o nei)
Pássaros que de tão frio são só conceitos
Mas tem casa de joão e o quero-quero que vai logo no que vem

O que tem de todo tipo mesmo é cão
E não importa se é pelado ou é vestido
Quatro patas ou só três
Quando a pomba que desceu é um chamariz
Chama tanto quanto a mim o cheiro desse pão no saco pardo
Temperando a atmosfera...
Essa impedida de ser como o pão: quente e fresca ao mesmo tempo.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Não aqui

Um ciclista vai pro norte
penso que é porque é mais longe
olho pros meus pés e sinto um cheiro na imaginação
que não sei da natureza mas que é cheio de clareza do seu tempo

Sol no algodão...
que nem chuva na terra
que nem grimpa queimada
que nem bosta no campo

E como soa essa palavra quando dita assim!
"vou pro Campo"...
enche a boca
achque até preteia uns dente e muda a fala
sua por debaixo do chapéu que não tá ali
e a grama que não tem te passa a sola e já começa a cutucar no pé.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Toco de fumo

Vinho passado?

pfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff

talo seco
folha velha
dedo torto
som rachado

desdentado é o gozo do mijado
babada a barba do bêbado
genuína a alegria do abobado!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A solidão é um grande silêncio cheio de palavras escritas

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A rede é o sorriso de uma casa