Era tão besta que de tanto ficar se dizendo o "the best of" qualquer coisa não notou a sutileza do deboche quando lhe passaram a chamar de Bestov.
Um dia resolveu registrar no cartório como novo nome pra si próprio esse "Bestov". E Bestov qualquer coisa era mesmo o melhor em tudo. Mas em bestialidade era mais.
E esses foram os fatos mais memoráveis da vida de Seu Bestov, que as pessoas que o amavam (um amigo, etc.) tinham pra contar. É uma história tão besta que marcou um estilo novo de literatura que jamais um escritor teve a ousadia de usar. O das histórias que começam sem serem muito atraentes, mas quando chegam ao fim você se dá conta que o melhor tinha sido aquilo mesmo.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Limite tendendo a zero ou o segredo pra felicidade eterna
Começou a gostar de fazer um intervalo entre uma coisa e outra. Pra notar bem cada uma, sentir elas, pensar sobre elas. Pensar sobre o sentimento e sentir o pensamento que cada fim de fim e começo de começo traziam.
Um dia ele disse "chegou a hora daquele intervalo, mas antes vou dar uma parada e ficar sentado notando bem cada coisa e sentindo e pensando...". E fez um intervalo entre a coisa e o intervalo.
E foi assim sucessivamente, notando cada transição, cada fim, cada começo, fazendo intervalos entre um intervalo e outro. Formando um fractal pra dentro do tempo, que ele degustou, engoliu e digeriu até o instante.
Mensageiro da morte
Aquele que há pouco ascendia
transluz a carcaça cor-dente-de-porco
Revela a apagada iminente
o não mais suficiente
o espírito pouco.
transluz a carcaça cor-dente-de-porco
Revela a apagada iminente
o não mais suficiente
o espírito pouco.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Manhã de segunda
Encostado na têmpora direita, o orifício da pistola. Na beira da calçada das butiques chiques. Uma pessoa a cada três, quatro segundos lhe passava. E não fosse caminharem e a ausência de uma arma apontada para a própria cabeça, seriam do mesmo tipo dele. Do mesmo tipo.
Mas apenas uma a cada cinco, seis, lhe cediam o olhar, e era sem muito interesse, como se ele estivesse segurando só uma câmera ou algo assim. Então ele abaixa a arma, decepcionado e um pouco puto com aquela gente toda, a guarda num estojinho e se mistura à massa andante. Só um pouco mais lento do que o resto.
Sete minutos depois já respeitava o metrônomo social.
Era indistinguível.
Mas apenas uma a cada cinco, seis, lhe cediam o olhar, e era sem muito interesse, como se ele estivesse segurando só uma câmera ou algo assim. Então ele abaixa a arma, decepcionado e um pouco puto com aquela gente toda, a guarda num estojinho e se mistura à massa andante. Só um pouco mais lento do que o resto.
Sete minutos depois já respeitava o metrônomo social.
Era indistinguível.
domingo, 29 de setembro de 2013
Tem coisa que a gente pensa que acha bonito pela visão mas que na verdade só admira o que sabe sobre aquilo.
O que sabemos. Não o que vemos.
Por exemplo a lua:
Tem aqueles postes de bola que de noite às vezes parece igualzinho uma lua gigante,
e a gente não fica admirando o poste,
porque sabe que é só uma bola de vidro com uma lâmpada dentro.
O que sabemos. Não o que vemos.
Por exemplo a lua:
Tem aqueles postes de bola que de noite às vezes parece igualzinho uma lua gigante,
e a gente não fica admirando o poste,
porque sabe que é só uma bola de vidro com uma lâmpada dentro.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Intrinsicalismo ou associativismo
O que eu me pergunto é:
será que se o céu fosse verde
e o mato, azul
e tivesse sido sempre assim
ainda teríamos os mesmos sentimentos?
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Alternativas a um mundo agendado
Sempre tem uns segundos no ano
que eu preciso me relembrar em que parte do ciclo estamos
que eu preciso me relembrar em que parte do ciclo estamos
e me faz pensar como seria
se de fato nunca soubéssemos o que está por vir.
se de fato nunca soubéssemos o que está por vir.
Será que teremos dez meses de calor? Ou um dia apenas?
Será que tá vindo uma noite aí?
Quando voltaremos a ver o sol nascer?
Na real não sei se a gente sabe mesmo
ou só acerta bastante e vive achando que sabe.
ou só acerta bastante e vive achando que sabe.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Expectro de setembro
Tem existências que só se nota na transição
...
Sigo uma folha e ando de novo entre as mirtáceas
...
Sigo uma folha e ando de novo entre as mirtáceas
Confirmo nos olhos, sem ver, na pele e fundo das narinas
Um suor das coisas que não sei bem quê
Mas que transpira e,
a despeito do que vem dos matos e umas flores, não é todo cheiro
Tem isso nas cores e nas (ditas) mortas superfícies, agora
Como se expirassem a alma que dormiu
um inverno inteiro.
sábado, 18 de maio de 2013
Gosto de músicas que vêm de fora
Digo da janela, ou mesmo ouvindo rádio
Que não seja eu que escolhi
É como se, no mato, eu pusesse um pássaro
um pinheiro ou uma flor
pra ver
Quando escolho, digo.
Quando vem de fora é parte do ambiente
me parece
Vem mais natural
Tem essa de receber
Mais sentido em contemplar.
A Véspera
Olhe aquele cara ali
Sozinho entre cem mesas
Sob um toldo decorado de holofotes verdes
Que engraçadamente ele acendeu pra si
Nessa noite úmida e vazia
Amanhã tudo estará cheio.
...
..
.
Amanhã só? Tudo cheio?
E essa brisa silenciosa de melancolia?
E o reinado da canção que ele escolheu?
E a profundidade do momento?
O trago, o medo, a falta, o ermo?
O nada!
Amanhã tudo estará tão vazio...
Natureza urbana
Pombas descansam no alto de um monumento
Na calçada o festival eterno de momentos
Passa um parecido com lisboa (o nei)
Pássaros que de tão frio são só conceitos
Mas tem casa de joão e o quero-quero que vai logo no que vem
O que tem de todo tipo mesmo é cão
E não importa se é pelado ou é vestido
Quatro patas ou só três
Quando a pomba que desceu é um chamariz
Chama tanto quanto a mim o cheiro desse pão no saco pardo
Temperando a atmosfera...
Essa impedida de ser como o pão: quente e fresca ao mesmo tempo.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Não aqui
Um ciclista vai pro norte
penso que é porque é mais longe
olho pros meus pés e sinto um
cheiro na imaginação
que não sei da natureza mas que é cheio de clareza do seu
tempo
Sol no algodão...
que nem chuva na terra
que nem grimpa queimada
que nem bosta no campo
E como soa essa palavra quando
dita assim!
"vou pro Campo"...
enche a boca
achque até preteia uns dente e
muda a fala
sua por debaixo do chapéu que não tá ali
sua por debaixo do chapéu que não tá ali
e a grama que não tem te passa a sola e já começa a cutucar no pé.
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