Não podia desdobrar bem as quatro patas. Antes disso, batia com o dorso no teto. O rabo batia nas paredes, se batesse, mas nem batia. E o focinho ficava bem perto da grade da frente, o que deveria ser uma porta, mas que nunca se abria. Só via pernas compridas, andando pra lá e pra cá; e a mão que lhe dava comida. Latia, uivava, chorava e mordia a grade, em vão.
Até que um dia, depois de meses, alguém mexeu naquela grade, e ela se abriu. Num pulo ele saiu por inteiro. Nem se sabe se foi primeiro a dianteira que saiu, ou tudo de uma vez só, tamanha a pressa. Então, derrapou numa freada logo a frente e, por não mais que dois segundos, não soube se ia pros pés daquele que o soltou, ou corria pra longe. Correu. Correu por muito tempo.
Até hoje, vive sem casa. Até hoje, convive com a dúvida. Seria a mão que abriu a porta do mesmo que na caixa o mantinha, e que talvez de novo o prendesse ou outro mal cometeria? Ou seria de uma alma boa que o libertou de vez e que quem sabe o acolhesse e para sempre o cuidaria? Até hoje não sabe. Trocou a chance do paraíso e o risco do inferno, pela certeza da satisfação mediana. Praquele lugar nunca voltará, seja isso bom ou ruim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário