A mulher leva o marido ao médico. Os dois se sentam.
- Qual é o problema?
- Então doutor... Ele tem agido de modo estranho. Ri de coisas tolas, chora de coisas banais, sorri pra coisas mortas, se surpreende com quase tudo, e não se preocupa com quase nada! Noutro dia passou duas horas deitado no chão da varanda, olhando pra cima. Pensei que estava olhando as estrelas, por que isso até eu acho lindo, mas não; olhava os insetos em volta do lustre. E teve uma vez que ficou pasmo com uma árvore que balançava ao vento. Está retardado ele, doutor?
O médico o examina um pouco e suspira.
- Está poeta dos olhos.
- Como é, doutor? E isso é grave?
- Não nesse estágio inicial. Sempre começa pelos olhos. Mas pode se espalhar pra língua e, mais tarde, pra todo o corpo.
- E aí? Tem risco de morte?
- Morte? Não! (fala rindo). Não, não... Ele estará melhor do que nunca e do que todos.
Em seguida, desfazendo o sorriso, diz:
- O problema é que... Caso se torne uma epidemia, bom, aí o mundo, ou melhor, a civilização, a sociedade... A senhora me entende? Isso morre.
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