terça-feira, 24 de setembro de 2024

Transentir

Às vezes, meus olhos são pra dentro
afundados no que eu sinto
ou quando longe, ilhados
pairam na paisagem da memória.

Nesses dias, caminho e não vejo nada fora
e as casas e jardins olham pra mim "como um girassol..." que me seduz.
Um cachorro até que olhou como cachorro
mas, me vendo, entendeu tudo e desistiu o latido, por achar que eu não ouviria.
Caminhei, mesmo?

Às vezes, minha alma é do lado de fora
na pele, nas narinas e retinas
e o vento, o cheiro e a luz, tua luz 
são-me os próprios vento, cheiro e luz.
E agora dentro, fogo extinto?

Mas, se aprendo a ser criança
e a dançar de mãos com o céu e a terra
e a deixar que o vento, o cheiro, a luz
e o chorar e a chuva
molhem não só pele e chão, mas o que eu sinto
e que o que eu sinto saia e molhe a chuva
e que essa chuva que eu molhei te molhe
então, no encontro, nada apaga
nada paira e nada afunda.

E o sentido assim sai como um cão banhado
se chacoalha, te respinga e rimos.

É preciso que uma entre e outra saia 
se transpassem, que se alcancem
porque é nesse encontro que ela nasce.
A beleza eterna e una, que transmuta, dança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário