Hoje, quando pensava na ausência, Mestre Caeiro me lembrou: preciso vê-la para pensá-la verdadeiramente. Como preciso ver a água para pensá-la verdadeiramente. Ou seja, sem pensá-las.
Porque agora, na ausência dela, se penso nela, tudo que pensar serei eu, o que sinto, o que lembro, e não mais ela.
Quando apenas penso, sem ver, é uma grande pobreza de tudo e um excesso de mim.
É por isso que é tão bom estar ao sol ou sobre ou dentro d'água, ou diante dela.
Na ausência, sequer se pode pensar na ausência, porque a ausência não é uma coisa.
A constatação da ausência nada mais é que um ressaltar de si. Um relembrar-se de si. Por isso é desagradável constatá-la demais.
E é por isso que sinto essa necessidade de estar sobre a água, sob sol, alvejado pelo vento ou com os dedos enfiados dentro do chão. Para descansar de mim. Para ver e sentir, sem pensar. Sem lembrar de mim.
E é por isso que amar é morrer em. Esse tanto querer amá-la para fora - querer ver, dar a mão, ouvir, abraçar, dar carinho e atenção, dançar e contemplar - é a vontade do descanso eterno.
E vai ver que é daí que vem a insaciabilidade da paixão: do constante ressuscitamento de si mesmo.
Viver o amor deve ser uma batalha interminável contra o eu, pela paz, no outro, pelo outro.