segunda-feira, 15 de março de 2010
Texto arrotado II
Inutilmente venho aqui escrever sem sequer olhar pra tela e nem muito me esforçar. É que a hora sagrada do dia, quando as cores mudam rápido no céu, a hora do vinho ao rádio, a hora da solidão, do sossego, da angústia e da reflexão, é pesada. Querer escrever tudo o que sente não dá. E o que seria do dia, e dos dias, e da vida, sem essa hora? Seria como ciência sem filosofia. Nada impossível, mas desprezível de tão chata. Seria um namoro sem risada. Insuportavelmente sério. Seria como buscar uma utilidade pra tudo na vida. Pra esse escrito, por exemplo, que já vai travando agora. Perdeu o impulso. Numa última puxada de fôlego – para a qual a música do rádio não contribuiu, por sinal – digo que essa hora do dia (aquela, agora já é noite) vem me dar uma cusparada na cara com o maior respeito possível pra que me lembre do quão nada séria e útil precisa ser a vida e suas coisas todas do tipo das que passam no jornal. Sem peso nenhum na consciência, fodam-se os terremotos e viva a valsa orquestrada sem letra e sem contexto atual. Obrigado por ouvirem e cederem este espaço. Sem pretexto algum, o autor.
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